Durante a tarde de ontem andei a fazer compras pelo mercado de Bissau, e conheci umas raparigas da associação "Mundo a sorrir", que é uma ONG de médicos dentistas portugueses. Ficamos a falar e adorei o projecto deles, que se aproxima muito do que eu gosto de fazer - estão a dar apoio em várias unidades e também num orfanato aqui perto, onde precisam de médico.
Mal me perguntaram se queria ir jantar e sair com eles, acedi obviamente. Fomos comer a um restaurante português e depois fomos a um café lá perto. Foi mesmo muito giro, porque eles são pessoas com ideias e expectativas que eu compartilho e com quem me senti identificada desde o início.
Hoje de manhã fomos a um orfanato aqui em Bissau, onde pela primeira vez achei que era precisamente isto que eu queria vir fazer, o significado real desta viagem. Vivem lá perto de 100 meninos órfãos, muitíssimo carentes, que agarram a mão à entrada e nunca mais a largam. Só querem brincar e um sorriso... e uns truques de magia também ajudam à festa :)
Trabalhei mais nesta manhã do que em todos os outros dias que estive cá, realmente não há mesmo mãos a medir... ainda ajudamos a desinfectar os quartinhos deles, demos papas e sopas, colo, brincadeiras, ajudamos nas consultas. Foi muitíssimo gratificante, e quero muito voltar lá. Eles são pessoas muito empenhadas, que vieram com um espírito incrível para esta aventura.
Não há dúvida de que está a ser uma experiência inesquecível. Muito enriquecedora, acho que sem dúvida isto vai mudar a minha visão de ver as coisas - é impossível não mudar. Mas também muito, muito mais difícil do que eu julguei. Não foi propriamente uma opção começar pela Guiné, que me diziam ser não ser talvez o melhor sítio para começar - foi basicamente a opção possível. Também não viria novamente sozinha, é muito importante ter um apoio de confiança nestas circunstâncias, mas mais uma vez, também não quis cortar este sonho por causa disso... As diferenças são muitas, é realmente um país tão pobre como eu não tinha noção que pudesse existir e, para mim, viver no nosso cantinho a beira-mar plantado, do qual já tenho tantas saudades, não me deixou ver como é maravilhoso ter segurança nas ruas, estabilidade social e política, um tempo que raramente é agreste, poder ter uma vida normal sem pensar em riscos de doenças fatais ou contagiosas, poder sair à noite sem medo, ter a família e os amigos perto e seguros, ser tudo tão descomplicado. Sinto que cresci sem notar. Tenho medo de algumas coisas, claro, mas tenho esperança que tudo correrá pelo melhor e este trabalho de hoje teve um preço inestimável para mim.
A família e o Manel, lá aguentam as minhas crises de fé, que tudo tem dias, com uma grande paciência :) Preciso de lhes dar uma grande grande beijoca por toda a compreensão e apoio, eu não sei sinceramente se seria capaz de o fazer no caso deles! Nem o que seria da minha força nos momentos mais complicados desta aventura :)